quinta-feira, 7 de outubro de 2010

ARTIGO: Saúde Mental

É comum observar as pessoas sendo avaliadas por meio de suas formas de agir em relação ao mundo. Contudo, raramente, são identificadas as relações entre o que a pessoa faz e o meio em que faz. Em geral, é dada atenção a apenas um elo em uma cadeia de eventos. As pessoas comumente são identificadas por parte de seus comportamentos, em especial relacionados a aspectos de ‘humor’: depressiva, agressiva, ansiosa. A pessoa adjetivada deixa de ser sujeito e torna-se apenas uma caricatura, um transtorno. ‘Adjetivar’ ou ‘rotular’ pode decorrer em julgamentos morais sobre o que aquela pessoa faz em relação a si ou a outras pessoas, culpabilizando a vítima.

Implementar um modelo asilar foi a escolha dos detentores do poder para os problemas que as pessoas ‘doentes’ poderiam causar na sociedade. A pessoa deixava de ter direitos e deveres de cidadão, tornava-se apenas ‘louco’, com uma causa interna qualquer. Implantados por todo mundo, os hospitais psiquiátricos se expandiam e, curiosamente, as ‘melhorias’ declaradas em função desse ‘tratamento’ não possibilitavam o retorno da pessoa a sua comunidade. Os ‘doentes’ tinham pouco benefício do sistema asilar pois, se o problema era caracterizado pelo julgamento social, na relação com outras pessoas, o isolamento não seria a melhor condição de aprendizado de autonomia ou outro aspecto necessário à vida em sociedade.

Felizmente muitos foram os que mobilizaram a sociedade para a mudança no sistema asilar. O Estado tem financiado novas formas de trabalho com as pessoas que apresentem problemas psicológicos em algum momento de suas vidas, de modo que os ‘usuários’ não enfraqueçam seus ‘laços’ com a família e o restante da comunidade onde residem. Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) foram criados para que a melhora nas condições de saúde das pessoas ocorra na própria comunidade onde elas vivem. O objetivo é louvável, mas muito ainda precisa ser feito para que ele se concretize.

No domingo, será comemorado o Dia Mundial da Saúde Mental’ A data serve para lembrar que o processo de mudança na atenção em saúde é constante. Seja no serviço público ou particular, os profissionais devem identificar se suas ações os torna menos parte do problema e mais da solução.

Por: CARLOS LEONARDO ROHRBACHER
Psicólogo no Ambulatório de Saúde Mental Infanto-Juvenil
Jornal A Notícia

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