sexta-feira, 17 de junho de 2011

A SOCIOLOGIA RADICAL DE FLORESTAN FERNANDES

Breve relato sobre Florestan Fernandes e sua Sociologia


Jaqueline Neyre Raupp

Profa. Mara Isa Battisti Raulino

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Faculdade Metropolitana de Guaramirim


RESUMO

No presente destaca-se a importância de Florestan Fernandes para o desenvolvimento da Sociologia brasileira. Sua vida, sua militância, o seu significado educativo que veio marcar a sua atividade docente, a evidente posição ocupada nas investigações científicas por ele realizadas. A sociologia de Fernandes inaugura uma nova época na história da sociologia brasileira. Não só abre novos horizontes para a reflexão teórica e a interpretação da realidade social, como permite reler criticamente muito do que tem sido a sociologia brasileira passada e recente

Palavras-chave: Florestan Fernandes, História, Sociologia,


1        INTRODUÇÃO


A sociologia, no contexto maior do conhecimento científico, surge como um conjunto de idéias voltadas para o entendimento da sociedade moderna. Seu surgimento não decorre da cabeça de um único pensador, mas de um processo completo de busca de explicações racionais sobre a sociedade.

Como atividade voltada para o conhecimento sistemático e metódico da sociedade, a Sociologia só aparece na década de 30 com a fundação da Universidade de São Paulo, embora o pensamento sociológico já existia no Brasil desde o século XIX.. Nessa época uma das preocupações em geral dos intelectuais era o interesse da descoberta do Brasil verdadeiro, contradizendo aquela visão etnocêntrica dos europeus, buscando desenvolver e modernizar a estrutura social brasileira.


2        BREVE RELATO SOBRE FLORESTAN FERNANDES E SUA SOCIOLOGIA


De origem extremamente humilde, Florestan Fernandes (1920-1995) nasceu na capital paulista em 22 de julho de 1920. Filho de mãe solteira, não conheceu o pai. Trabalhou desde cedo, tendo que trabalhar para ajudar a  sustentar a si e à família.São suas palavras, neste contexto: “(...) minha mãe deu o nome de Florestan e a minha madrinha dizia que Florestan não era nome para mim, era nome de alemão. E eu fiquei Vicente para a família de minha madrinha, e para a minha própria família que achou muito estranho chamar alguém de Florestan”.(Fernandes, 1995, p. 7). Não pode frequentar regularmente a escola, estudando até o terceiro ano do primeiro grau. Em suas horas vagas, mergulhava na leitura, arindo assim caminho para o autodidatismo. Só mais tarde, em 1930, voltaria a estudar fazendo curso de madureza, estimulado por frequentadores do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom.

Movido pelas promessas de desenvolver seu notável talento e com as promessas da sociedade moderna, em 1941 entrou para a concorrida Faculdade de Filosofica, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, que havia sido fundada recentemente no intuito de formar novas elites intelectuais do país.

No início da sua experiência acadêmica, F. Fernandes entra de cabeça no papel de intelectual moderno, ligando-se a valorização da indepêndencia do pensamento metódico como requisto para a crítica racional da sociedade.

Como membro da segunda geração de intelectuais brasileiros ligados à Universidade de São Paulo, F. Fernandes batalhou durante toda a sua vida acadêmica e militante por alternativas para tratar um projeto nacional que tivesse como principal tema a transformação social, a partir da incorporação das minorias.

Ainda enquanto cursava o segundo ano da faculdade desenvolveu uma abordagem das manifestações culturais populares, criticando as manifestações folclóricas como fenômenos culturais. Tinha ele uma visão revolucionarista da sociedade que separa acultura dos incultos. O que se nota estar em xeque a época, na visão de F. Fernandes era a integração da sociedade nacional às voltas com o problema de sua insecção na civilização moderna. Ele ainda representa a principal ligação entre os antigos catedráticos da USP e a nova geração de pesquisadores no final da década de 50. Nessa época, houve uma transformação rápida na sociedade brasileira, favorecendo a participação dos intelectuais em variados movimentos.

Da condição de ex-aluno da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, tornou-se segundo assistente de Fernando de Azevedo Azevedo e obtém o título de mestre com a dissertação "A organização social dos Tupinambá" na Escola Livre de Sociologia e Política, explorando as possibilidades de recontrução da ciedade de Tupinambá, seguindo fontes e documentos de viajantes e cronistas dos séculos XVI e XVII. O encontro intelectual com Azevedo é narrado da seguinte forma por Fernandes: “Quando eu fui convidado para ser assistente (...) cheguei a dizer: professor Fernando Azevedo, eu não sou responsável pelo que vai acontecer. Eu sou aluno, o senhor está convidando um aluno para ser assistente, e isso está errado”. (Fernandes, 1995, p. 9).

O rigidez acadêmica em que se orienta o pensamento de Fernandes o leva a construiu uma “sociologia crítica e militante”, que tem um estilo de refletir sobre a sociedade brasileira a partir de suas raízes. Para ele, no mundo moderno, os sociólogos devem unir a ciência à militância buscando por elevar o nível intelectual das massas.

Assim, busca ele não somente uma identificação entre a verdadeira ciência e o processo de transformação social, mas também uma aliciação do cientista que não deve esgotar-se no plano teórico, devendo concentrar suas forças para uma prática social “militante”.

Contundente quanto ao papel do cientista, Fernandes confere aos intelectuais responsabilidade na empreitada de combater o atraso cultural da sociedade de que é parte. Nesse sentido, o cientista precisa impor a si mesmo uma ética de responsabilidade científica, mesmo que essa lhe cause e conflitos com grupos empenhados na exploração da ciência ou da tecnologia dela decorrente. No universo de suas análises acerca dos processos de transformação social, entram em cenas atores das camadas populares - negros, índios, homens pobres, enfim, os marginalizados sociais, que eram estudados por Fernandes como nação dominada heteronômica, periférica, dependente; a dominação burguesa e seus limites, do ponto de vista dos trabalhadores (Cardoso, 1994, p.16).

Essa postura torna-lhe possível unir a ciência e a política como uma só vocação; predominando as convicções científicas e políticas intimamente associada e marcadas por um senso de militância que nunca cessa e tem sido a linha de coerência da sua vida (Cândido, 1996; p. IX). Defende Fernandes, portanto, a tese de que ao intelectual não cabe a neutralidade científica, não devendo achar ser os sociólogos, servos do poder, mas se verem como agentes do conhecimento e da transformação do mundo.

3 CONCLUSÃO


Sociólogo e estudioso brilhante, mas, fundamentalmente, um lutador social, figura humana cujo olhar foi sendo constituído a partir da vida concreta, das experiências sociais vivenciadas no cerne de uma sociedade que permanece injusta e desigual, apesar dos avanços recentes.

Fernandes dedicou seus estudos tratando dos movimentos sociais, da ação dos índios e negros, imigrantes, escravos e trabalhadores rurais e urbanos. Escolheu estudar os excluídos do sistema capitalista porque ele mesmo sofrera na pele os percalços de uma vida difícil. Como intelectual passou a defender uma sociologia que transformasse a realidade e fosse transformada por ela. Acreditava que, o pensamento, só pode promover mudanças por meio da democracia participativa. Fernandes também foi um cidadão atuante e pregava a “sociologia militante”, que visava unir a teoria com a prática, logo teve uma grande influencia de Marx. Essa busca em conciliar a teoria e a ação prática foi, em sua vida, um grande marco.


4  REFERÊNCIAS


CÂNDIDO, Antônio. “Um instaurador”. Revista Brasileira de Ciências Sociais. São Paulo: ANPOCS, 1996. n. 30, Ano 11, fev. pp. 6-8.

CARDOSO, Míriam Limoeiro. Para uma história da Sociologia no Brasil – a obra sociológica de Florestan Fernandes: algumas questões preliminares. São Paulo: USP. 1994. Coleção documentos. Série Teoria Política, nº 08.

GARCIA, Sylvia. G. . A sociologia radical de Florestan Fernandes. Sociologia, São Paulo, p. 42 - 47, 12 dez. 2006.

“Florestan Fernandes: esboço de uma trajetória.” Boletim informativo e bibliográfico de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Relume/Dumará, 1995. n. 40, 2º sem., pp. 3-25.

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